Nas últimas férias de Agosto, regressei a um lugar muito especial da minha infância. Voltei à costa vicentina, à terra dos meus avós, a Melides no concelho de Grândola.
Muitos dos meus Verões foram passados nesta terra, na pequena aldeia, onde o tempo parece abrandar.
Perto da lagoa de Melides e próxima de um mar revolto, mas de uma beleza quase selvagem, fica esta aldeia. Com as suas casas brancas e azuis e com os seus habitantes simpáticos, sempre prontos a ajudar e de uma enorme simplicidade na forma de ser e viver. Assim é Melides.
Os meus avós (maternos) apesar de terem casa em Melides, há sete anos que não vivem lá. O meu avô devido à doença de Alzheimer (doença maldita esta, que nos rouba o que somos, quem somos...) teve de ir para um lar (longe de casa, mas onde pôde ser acompanhado constantemente) e a minha avó, que à data, ainda se encontrava bem, acabou por o acompanhar... Durante estes anos, apenas voltaram à sua casa, alguns dias e fins de semana. Este ano com o apoio da minha mãe e da minha tia, regressaram à sua casa, durante uma semana, no mês de Agosto. E eu ao saber disto e ao estar em Portugal, não quis perder a oportunidade de os ver na sua casa. Na casa, onde eu também cresci.
Encontrei-os sorridentes, bem dispostos na sua casinha e fiquei tão feliz de os ver ali. Recordei tantos momentos, tantas memórias... O meu avó (oitenta e seis anos) com a medicação certa, recuperou imenso (oitenta por cento, diz-me ele), achei-o muito bem, a recordar-se de tudo, com uma lucidez que eu não esperava, mas que me deixou de coração cheio. A minha avó (setenta e sete anos) deu-me uma abraço enorme, quando me viu... daqueles abraços... onde cabe o mundo... naquele abraço, recordei as manhãs que passei com ela, na praia de Melides ou em São Torpes... naquele abraço passaram pela minha memória fragmentos, da minha, da nossa vida... No entanto achei a minha avó mais debilitada, mais esquecida, muito mais em baixo que o meu avô, apesar de não lhe ter sido diagnosticada qualquer doença neuro-degenerativa.
Foi um fim de semana doce, onde passeei pela vila, voltei à bonita praia de Melides e à sua lagoa. Ri-me imenso com as anedotas do meu avó, com as suas histórias e lembranças perfeitas, que demonstram o quanto recuperou. E já de partida de novo para o lar, não pude deixar de sentir uma tristeza imensa ao vê-los deixar novamente a sua casa... Encontrei o meu avô sentado no sofá da sala, sereno a ouvir música e notei que estava com arranhões, nos braços, na testa. E a sorrir, disse-lhe que estava cheio de mazelas... e ele a rir diz-me que no lar, iriam achar que veio da guerra, mas que tinha adorado voltar a casa, estar de volta da sua horta e das árvores (onde se arranhou) e que assim ainda ia chegar aos noventa anos... Sorri para ele, disse-lhe, claro que ia, e que os queria ver ali novamente... Ele sorriu... sorrimos os dois...
⦁
Fonte dos olhos, Melides.